quarta-feira, 1 de junho de 2011

It's just my job five days a week.

Queria eu ter aprendido a ser acomodada. Daquelas pessoas que ficam anos no mesmo trabalho chato, bate ponto pra entrar, bate ponto pra sair, e não se incomodam. Querem apenas es-ta-bi-li-da-de e só. Nada de desafios, novidades, frio na barriga ao ter que aprender um processo. Seria muito mais fácil. Eu não ficaria culpando a mim e ao mundo corporativo MAU que deixa a gente com autoestima lá embaixo, minúscula, pronta pra comprar passagem só de ida pra Botswana e aguardar o maremoto.
Acontece que fico aqui me torturando enquanto espero pela chance. De ouro, daquelas que vai me fazer levantar da cama num pulo, com um sorrisão de gato de Alice, numa manhã de sexta-feira enquanto o César dorme ao meu lado. Sem culpa ou remorso. Pensar, produzir, inventar.
(Sabe que nessa brincadeira de casar eu descobri que sou uma excelente inventora? Imagine como seria útil ter um gaveteiro de banheiro COM cesto de roupa suja? Tudo junto e misturado? Aham, só falta alguém descobrir meu potencial.)
Besteira eu ficar me torturando, afinal só 5% da população mundial gosta do próprio trabalho. E algumas pessoas ainda mentem, a gente sabe. Mas eu sempre tive referências de pessoas que não pensam em aposentadoria simplesmente porque têm tesão no que fazem. Minha mãe trabalhou até duas semanas antes de falecer de câncer. Meu pai tem 64 anos e viaja pra cá, viaja pra lá, se enfia em cada buraco que nem te conto e adora. Não é pra invejar?
Enquanto isso, eu fico aqui, mezzo perdida mezzo encontrada no meio do redemoinho trabalhístico, achando que é coisa do destino, este safadinho, que não quer me deixar ter sorte no jogo.

Porque dá pra imaginar meu sorriso amarelo quando levanto da cama me arrastando, deixando o melhor do dia adormecido.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Vaga tentadora em empresa gringa

Pré-requisitos:

- Pró-atividade: se antecipe ao problema do time que está suportando, mesmo que isso não valha nada e você seja criticado em rede nacional, com cópia para gerentes, gerentes dos gerentes, Deus e seus 12 apóstolos.
- Dinamismo: jogue nas 11, realizando trabalho de todas as áreas. Pergunte, pesquise, grite, faça qualquer coisa para mostrar que sim, você pode, atender às expectativas de clientes, fornecedores e time que vende, não importando quais as consequências de um almoço de três minutos e se vale mesmo a pena acompanhar o crescimento de seu filho.
- Trabalho em equipe: como complemento ao pré-requisito anterior, mostre que um talento genuíno sabe muito sobre tudo e as outras pessoas envolvidas são meros coadjuvantes. Dê assistência aos seus pares, ainde que isso lhe traga úlcera.
- Facilidade de comunicação: sorria sempre, mesmo depois de receber um email grosseiro, escrito por um idiota que se vale de sua superioridade. Lembre-se que ele vive numa potência econômica, coisa de primeiro mundo, e você é um simples Assistente, ser humano ridículo, limitado, que só usa 10% de sua cabeça animal.
- Flexibilidade: Desenvolva ferramentas para engolir o maior número de sapos possível sem precisar chorar no banheiro. Assim que receber aquele pepino grande, com areia e caco de vidro, sem KY, seja digno para erguer a cabeça, bater no peito e dizer, em voz bem baixinha, "FODEU". Desmarque logo o choppinho com os amigos e tire dinheiro para o táxi. O profissional de hoje não pode pensar em ter vida social, pois isso é coisa para fracos e desmotivados.
- Comprometimento: ame a empresa. Mais do que sua esposa, o cachorro, a família. Vista sua camisa e defenda-a em rodas de amigos, quando arrumar uma brecha para vê-los. Tenha em mente que é ela que paga seu salário e lhe permite pagar a prestação de seu Gol 1997. Participe de almoços, workshops e trabalhos voluntários, mesmo que não receba um "parabéns" ou "obrigado" por isso. Você está fazendo apenas o que é esperado, portanto não adianta se achar, bonitão.

O salário é (in)compatível com as responsabilidades do colaborador.

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Interessado?
Procure uma terapia, meu filho.
De preferência, com eletrochoque.

(Mas, ó, garanto que existe vaga assim por aí)

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Paris Je T'aime. Mucho!

Veja bem, o metrô parisiense não é impecável. Diz minha tia - e concordo em gênero e número "igual"- que Paris já deixou de ser primeiro mundo há tempos. Primeiro mundo é Dinamarca, Suécia, Finlândia, onde as coisas funcionam tão bem que chega a ser chato, o que não tira um centímetro de minha vontade de ir pra lá ontem. O metrô de Paris é sujo, pichado, tem cheiro de xixi. Os bancos ficam encostados e você precisa puxá-los para baixo e segurá-los para sentar. Sim, segure os malditos banquinhos. Eu quase tomei um tombo histórico por não ter feito isso. A questão é que você chega em QUALQUER lugar usando o metrô de Paris. Do Oiapoque ao Chuí da cidade. E esbarra com rico, pobre, ferrado, tudo quanto é tipo de gente. Aqui no Rio, acho que os ricos pensam que metrô é coisa de pobre e aproveitam para tirar o carrão da garagem todo dia e fazer com que o tráfego esteja essa maravilha toda. Se fode aí quem precisa pegar ônibus, ora.
Sim, sim, o metrô da Cidade Luz é "magnifique".

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E os artistas? Uma mulher entrou no vagão carregando um amplificador pequeno e microfone e cantou para a plateia acostumada e os dois cariocas abestalhados. Amplificador, porra. Isto sim é inusitado.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Apenas um causo sem causa.

Meu aniversário de 16 anos, época boa. Fazer um churrasquinho com show de rock parecia uma excelente ideia, então convoquei os meninos, arrumei a área/garagem, e sentei para ver a passagem de som.
Foi aí que vi a vaca indo direto para o brejo. A casa tremeu, juro, e os vidros quase se partiram. Acho até que vi sombras negras circulando pela sala. Na hora, pensei "Danou-se".
Subi as escadas torcendo pra que minha mãe tivesse desmaiado no primeiro acorde da guitarra. Nada grave, somente um apagão de cinco horas. A luz do banheiro estava acesa e pude ver sua cara roxa de raiva depois de ter borrado o batom assim que a bateria começava a crescer com "Highway Star".
Pausa para respirar e ganhar coragem.
Entro no banheiro e lá está ela, batendo cabeça em frente ao espelho. Assim que me vê, diz:
- Nossa, Nanda, que som maneiro!

Durante a noite, vizinha Lilo ligou para dizer que o barulho estava matando seu marido.
Ainda bem que não demos importância, pois ela fez o mesmo nos três anos seguintes.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Eu queria tanto descansar o meu coração. Uma nova má notícia não.

Sou pessimista com carteirinha de registro e tudo. Minha mãe dizia isso com frequência. Ora bolas, é muito mais fácil me enganar achando que o sofrimento será menor caso não tenha sucesso do que criar uma expectativa enorme e levar um tombo pior ("the higher you fly/the deeper you go", em minha interpretação).
Político rouba, padre alicia, flanelinha bate, bandido joga bomba, motorista atropela e não socorre, mães jogam bebês no lixo. Já abro o jornal torcendo pra ver uma notinha minúscula sobre uma menina que teve o rosto queimado e desfigurado reconstruído por médicos sei lá de onde, ou uma pessoa humilde que reencontrou um parente após 20 anos. Até mesmo uma cadela amamentando filhotinhos de puma me emociona. Bondade, sabe? Esta atitude que foi riscada da configuração do sistema de muitos seres humanos por aí.
Tento me incomodar menos - ou conformar mais - com as coisas horríveis e chocantes que acontecem em meu país. Pessoas que reclamam demais são chatas e repetitivas e não nasci pra ser eremita.

Mas, puta que pariu, é preciso ter uma tolerância que não cabe mais em meu sistema. Acho mais fácil mudar de planeta.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Tem sangue no jornal, bandeiras na avenida Zil.

O sujeito, supostamente doidão de crack, mata um travesti e tenta colocar fogo em seu corpo. Quando denunciado pelos vizinhos, se contradiz, dando diferentes versões ao episódio. Seu pai, quando descobre o que aconteceu, fica mais chocado com o o fato do filho ter relações homossexuais do que o trágico desfecho do freak show.

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Ministério Público investiga a Suipa por maus-tratos aos bichinhos e desvio de verba. No desenrolar do freak show 2, um sujeito publica artigo n'O Globo dizendo que a presidente da instituição é muito honesta, porém funcionários roubam descaradamente e animais vivem engaiolados (ouviu? en-gai-o-la-dos), muitas vezes matando uns aos outros. A diretoria vê tudo. E a presidente é idônea, né? Ok, passo a me chamar Maria Antonieta a partir de agora.

Sabe, é tudo tão nojento. O bicho não vai parar lá por conta própria. Algum idiota fez o favor de largá-lo e ele, então, foi resgatado para viver em péssimas condições, torcendo para que alguma pessoa se sensibilize com sua carinha triste. Na cidade em que minha avó vive, em MG, as pessoas entregam os filhotinhos de suas cadelas a um sujeito que... bem, nós sabemos muito bem o que ele vai fazer. Por que estas pessoas não castram os cachorros, cacete? É simples e não tão caro.

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Eu berro "ME TIRA DESSE BURACOOOOOOOOOOO" no ponto de ônibus. Não é compreensível?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Cabeça-dura

Assim que saiu do trabalho, nossa heroína pôs seu chinelinho e andou pelas ruas do bairro atrás de uma Drogasmil. Farmácia encontrada, remédios comprados, pegou o 438 para casa. Chovia. Em frente à sua casa, há um ponto de ônibus invisível. Para os motoristas de ônibus, pelo menos, pois nenhum para lá, deixando para fazê-lo alguns metros à frente, no sinal. Por precaução, fez sinal logo que o coletivo deixou o ponto anterior. "Com esta chuva toda, ele tem que me deixar no lugar certo", pensou. O ônibus parou no sinal. A moça resolveu se dirigir à porta e pediu para saltar. Foi ignorada. Insistiu e continuou sem resposta. O motorista ouvia pagodinhos em volume considerável. Na terceira vez, ouviu a advertência grosseira "Isso aqui não é ponto, moça, e não sou baleiro pra você ficar me chamando". Sim, sim, ele estaria certo. Se esta zona aqui não se chamasse Rio de Janeiro, Terra Das Pessoas Sem Educação. Ela poderia ter ficado quieta, mas, porra, teve um dia do cão e não merecia ser tratada assim. Respondeu, reclamando que nunca paravam no outro ponto, isso é um absurdo, o salário mínimo é uma desgraça, blá, blá, blá. Tanto reclamou que o sujeito simpático abriu a porta. Ao pisar no segundo degrau, percebeu que havia uma poça enorme, ou melhor, ENORME, embaixo do ônibus. Ela não poderia mais voltar. Pisou na poça e seus pés afundaram na água. Ao levantar o primeiro pé para subir no meio-fio, seu chinelo escapou e começou a boiar. Nossa heroína, instintivamente, retirou o outro chinelo e continuou caminhando, como se nada tivesse acontecido, sem olhar para trás.

Perderia o chinelo, mas não a dignidade.